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14 de janeiro de 2014

Crédito restrito faz inadimplência recuar pelo quarto mês consecutivo, aponta SPC Brasil

O volume de dívidas em atraso recuou -4,44% em dezembro e encerrou 2013 com alta de +2,33%. Em desaceleração, vendas a prazo cresceram apenas +4,12% no ano

O volume de registros de inadimplência no país recuou -4,44% no último mês de dezembro em relação ao mesmo período de 2012. Trata-se da quarta queda consecutiva e da baixa mais acentuada desde o início da nova série histórica, calculada a partir de janeiro de 2012 pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

Os economistas do SPC Brasil explicam que a inadimplência veio em forte ascensão até o final do primeiro trimestre do ano passado, mas a tendência se inverteu a partir de abril, quando o Banco Central passou a aumentar sucessivamente a taxa básica de juros da economia, a Selic, o que encareceu a tomada de crédito no país, impactando o varejo como um todo. Desde então, o volume de atrasos nos pagamentos das compras a prazo passou a intercalar desacelerações com quedas.

Especialistas do SPC Brasil garantem que houve uma mudança na postura dos bancos e lojistas, que passaram a exigir mais garantias dos tomadores de financiamentos, fato que tem como conseqüência imediata a redução do risco de calotes.

“O spread bancário maior e a menor confiança dos comerciantes sugerem que a concessão de crédito está mais rigorosa. O atual cenário é de um consumidor retraído para novas compras e forçado a adequar o próprio orçamento frente a um novo ambiente econômico”, explica o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior.

Os dados na comparação com novembro também mostram a inadimplência em trajetória declinante: o recuo foi de -1,73%, apurou o indicador do SPC Brasil.

A queda na comparação mensal confirma as expectativas, por ser um comportamento típico deste período do ano. Em dezembro de 2012, também ocorreu a mesma coisa (a inadimplência havia caído -1,17% em relação a novembro). Na avaliação da economista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, a injeção de capital extra com o pagamento do 13º salário e o incremento de vagas temporárias ao mercado de trabalho favoreceram o pagamento de dívidas.

Com variações brandas ao longo nos últimos meses, a inadimplência do consumidor encerrou o ano de 2013 com aumento médio de +2,33%, resultado que contrasta com o crescimento de 12,18% da inadimplência observado ao longo de 2012.

“Para 2014, projetamos uma taxa de inadimplência semelhante a do ano passado, mas com viés de alta, uma vez que pela primeira vez em vários anos a perspectiva é de uma inversão no panorama positivo do mercado de trabalho”, afirma Pellizzaro Junior.

Vendas a prazo
Reflexo de um resultado modesto do Natal e da alta de juros, que impacta no custo dos financiamentos de bens no comércio, o número de consultas ao banco de dados do SPC Brasil para vendas a prazo cresceu +2,90% em dezembro de 2013. O resultado foi pior do que o registrado em igual período de 2012, quando as vendas haviam crescido 5,37%.

“Nem mesmo o Natal, que é a data mais importante em lucratividade e volume de vendas para o varejo foi capaz de reverter a desaceleração das vendas que tivemos durante o ano. Para recuperar as vendas perdidas, muitos lojistas já anteciparam as liquidações neste mês de janeiro”, reitera Pellizzaro Junior.

A economista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, explica que em 2013, o varejo não contou com os mesmos fatores macroeconômicos que ajudaram a aquecer o setor nos anos anteriores, como os altos índices de geração de emprego, expansão da renda real e a larga oferta de crédito mais barato.

A desaceleração nas vendas deve-se ao momento menos favorável ao consumo das famílias, já que o custo para o consumidor comprar a prazo aumentou. A escalada dos juros básicos da economia já dura nove meses. De abril para dezembro, a taxa Selic saiu do piso histórico de 7,25% ao ano, para o patamar atual de 10,00%.

Além disso, 2013 foi o quarto ano consecutivo em que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, se manteve acima do centro da meta fixada pelo governo, que é de 4,5%.

“O efeito da inflação sobre a renda dos trabalhadores foi corrosivo ao longo de 2013 e reduziu o poder aquisitivo. Some-se a isso, o fim gradual de isenções e reduções tributárias, como o do IPI para eletrodomésticos, automóveis e móveis, que contribuiu para o menor crescimento das vendas do varejo”, explica Luiza Rodrigues.

Na comparação com novembro de 2013, as vendas registraram alta de 28,65%. Para o SPC Brasil, o número é considerado fraco para o período, visto que em dezembro de 2012, as consultas haviam crescido 32,28% em relação ao mês imediatamente anterior.

A perda de fôlego nas vendas a prazo também se repetiu no resultado consolidado do ano. Nos 12 meses de 2013, o crescimento médio do varejo foi de 4,12% contra 7,16% registrado em 2012.

A desaceleração do comércio varejista verificado no ano de 2013 também está ligada ao menor crescimento da renda do brasileiro, dizem os especialistas do SPC Brasil. Segundo dados do Banco Central, nos primeiros 10 meses de 2013, a massa salarial cresceu 3% em termos reais em relação ao mesmo período do ano anterior, o que configurou o menor crescimento dos últimos cinco anos.

Projeções para 2014
Para o SPC Brasil e CNDL, o modelo de incentivos ao consumo está perdendo efeito no país e por isso, as vendas a prazo em 2014 devem crescer um pouco menos que em 2013: 4%, já descontada a inflação.

“Até 2012, o cenário macroeconômico foi muito favorável para o comércio. As medidas adotadas pelo governo para estimular o mercado interno frente à crise econômica global foram bem sucedidas, mas o ciclo de crescimento do varejo em patamares chineses ficou para trás e agora estamos com um crescimento mais modesto, ainda que superior ao PIB nacional”, afirma Pellizzaro Junior.

Caso o ritmo de desaceleração da economia brasileira continue no próximo ano e o governo tenha dificuldades para domar a inflação, a taxa de desemprego corre o risco sofrer um leve aumento e conseqüentemente afetar o consumo, alerta a economista Luiza Rodrigues.

Quanto à realização da Copa do Mundo de futebol no Brasil, Pellizzaro Junior acredita que nem todos os setores sairão lucrando de igual maneira. O comércio de alimentos, bebidas, supermercado e produtos eletrônicos devem ser mais positivamente impactados do que outros, como os de vestuários e calçados, que vendem a prazo.

“A experiência da Copa das Confederações mostrou que as cidades que receberam jogos decretaram ponto facultativo e o comércio acabou fechando as portas mais cedo, além das manifestações de rua, que prejudicaram as vendas. O mesmo padrão pode se repetir este ano”, recorda ele.

Recuperação de crédito
O número de cancelamento de registros, que reflete a recuperação de crédito no varejo e a quitação de dívidas em atraso, foi negativo em dezembro de 2013 e apresentou um recuo de -0,73% sobre o mesmo período de 2012.

Especialistas explicam que a queda do número de pendências regularizadas é reflexo da redução da base de comparação: como a inadimplência caiu em relação ao ano passado, o número de cancelamentos de dívidas também caiu. Isso porque, com um menor número de inadimplentes, também é menor o número de consumidores que buscam a regularização.

Em relação a novembro, contudo, houve uma alta de 3,99% no volume total de consumidores que pagaram suas dívidas e voltaram a ter crédito no mercado. No acumulado do ano de 2013, o crescimento verificado foi de 1,72% frente a 2012.

Metodologia
O indicador do SPC Brasil e da CNDL é calculado mensalmente e leva em consideração aproximadamente 150 milhões de consumidores e estabelecimentos comerciais espalhados em mais de 2.200 municípios por todo o país.

Baixe o material completo em https://www.spcbrasil.org.br/imprensa/indices-economicos

*Fonte: CNDL/SPC Brasil

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