O economista Marcelo Neri, um dos bambambãs da Fundação Getúlio Vargas, fez, recentemente, algumas contas que ratificam o clima de preocupação que nós vínhamos externando, já há algum tempo, com relação ao modelo de crescimento econômico a ser adotado pelo Brasil, tão logo suplantemos todo o turbilhão político que temos vivido.
Pelas contas de Neri, que tomam por base dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE, o ritmo de deterioração da desigualdade social no Brasil, em 2015, foi duas vezes maior que o ritmo de melhoria desta desigualdade que havia sido observado entre 2001 e 2014.
Além disso, ainda de acordo com ele, a renda real média do brasileiro teve queda de 3,3% no final do ano passado, exatamente o mesmo percentual de melhoria que ela havia experimentado até 2014. Ou seja, somente em 2015, o brasileiro viu ruir todo o ganho real de sua renda que havia auferido em 14 anos. Trata-se de um revés histórico.
Os números, como eu já disse, ratificam uma percepção que o setor de comércio e serviços – um dos mais importantes da economia como um todo e que, no RN, assume ares de verdadeiro pilar da nossa atividade produtiva – já tinha há algum tempo: o poder de consumo do brasileiro está exaurido. Sobretudo o poder de consumo de uma parte da população que, durante mais de uma década, sustentou as vendas: a tão festejada e ascendente classe C.
Essas pessoas estão hoje às voltas com o endividamento, a inadimplência, o desemprego e a falta de perspectivas. Este quadro é a base de todo o processo de crise econômica que vivemos. E, pior, ele é cíclico. Um círculo vicioso. Quedas nas vendas redundam em fechamento de vagas que, por sua vez, redundam em menor renda, aumento da inadimplência e, consequentemente, menos consumo e… menos vendas!
O setor de Comércio e Serviços, que emprega quase metade dos potiguares e responde por cerca de 60% do ICMS recolhido aos cofres estaduais, chegou ao seu limite de sobrevivência. Nos reinventamos, reduzimos nossos custos, otimizamos nossos recursos e reaprendemos a fazer mais com menos. Estamos sobrevivendo, quase que completamente, às custas de um turismo aquecido, que também já dá mostras de que esgotou sua condição de sustentar nossas vendas sozinho. A corda já está esticada ao máximo.
O momento agora é dos governos agirem. Em todas as esferas e em todos os seus poderes. Não podemos mais conviver com o volume de impostos que pagamos. Em paralelo, estaremos definitivamente condenados, caso o Estado comece a faltar com seus compromissos (pagamentos a fornecedores e ao funcionalismo, por exemplo, apenas para citar dois itens que alimentam, de forma direta e basilar, a economia potiguar). Estaremos igualmente encrencados caso o Estado siga sem capacidade de investimento.
Os governos precisam reduzir seus tamanhos, adequar suas despesas às receitas e prever, nestas despesas, incentivos ao setor produtivo – em particular, pelos motivos que já citei, ao segmento de Comércio e Serviços – e para investimentos. Estes últimos, além de terem o poder de melhorar a infraestrutura – algo que redunda na redução de custos para as empresas – também irrigam a economia. Precisam ser encarados como prioridade.
Nós, o setor produtivo e a sociedade, estamos cansados de sermos sacrificados sozinhos. De apenas nós darmos o nosso quinhão de sacrifício – cada vez maior – para sairmos do atoleiro econômico em que nos encontramos. Queremos apoio para continuarmos gerando emprego e renda. Sozinhos, já não conseguimos mais!
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