Em um momento dos mais frustrantes para o setor turístico potiguar dos últimos anos, o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), senhor Eduardo Sanovicz, esteve no final de março em Natal para falar sobre um tema que tem colocado uma enorme pulga atrás da orelha de todos os empreendedores (e da própria sociedade) deste estado: o alto preço das passagens aéreas para Natal e o definhamento de nossa malha aérea. Digo “todos” porque tenho certeza que é de interesse geral da economia potiguar o desenvolvimento do nosso turismo.
Pois bem, Sanovicz falou pouco – para um assunto tão relevante – e, a meu ver, deixou no ar três afirmações que merecem nossa reflexão. A primeira foi: “Parece que, de fato, temos um problema na malha aérea potiguar. E precisamos resolvê-lo”. Registre-se que ele não explicou, a contento, as causas deste problema. Mas, e isso é bom, se colocou à disposição para somar forças com o Estado para buscar a solução.
A segunda afirmação importante dele foi: “Quando tomamos os valores de todas as passagens vendidas no país, com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que são muito mais consistentes que uma simples pesquisa em sites de vendas de passagens, a tarifa média para João Pessoa foi, em 2018, de R$ 467,40 enquanto que a do RN foi de R$ 455,65”.
Por fim, a terceira afirmação foi: “Eu não participei, a Abear não participou da elaboração do acordo para redução do ICMS de querosene de aviação aqui no RN”.
Sobre esta última afirmação, meu sentimento é de total surpresa. Custo em crer que o Governo do Estado, à época capitaneado por Robinson Faria e tendo à frente da Secretaria de Turismo o empresário Ruy Gaspar – experiente e conhecedor do mercado – tenha deixado de envolver na construção do acordo uma entidade que simplesmente representa quase 99% do mercado aéreo nacional. Se foi assim, este foi um erro crasso!
Acerca da segunda informação, é importante ressaltar que os dados da Anac são, é verdade, mais completos que a pesquisa à qual Sanovicz se referiu. Eles, na prática, tiram um valor médio, que pode ser mascarado, por exemplo, por promoções em época de baixa estação.
Além disso, eles acabam compondo um cenário que, até por sua profundidade, acaba meio distante da realidade do turista comum, que, na realidade, busca seus pacotes turísticos indo verificar, primeiro, o valor médio das passagens na data que ele pretende viajar. E ele faz isso indo pesquisar na internet. É fato.
Por fim, acerca da primeira afirmação de Sanovicz, a existência do problema é de amplo conhecimento de todos nós. O que precisamos entender é: o que está, finalmente, faltando para ampliar a nossa malha aérea e reduzir nossas tarifas? O Estado já bancou R$ 32 milhões em redução de impostos sobre o querosene de aviação, sem absolutamente nenhuma contrapartida das companhias. Não podemos aceitar isso! Entendemos algumas das razões de mercado e temos trabalhado forte, unidos poderes públicos e iniciativa privada, para manter o turista mais dias aqui, gerar maior fluxo e nos tornarmos mais atrativos. Nossa parte, estamos fazendo. Mas precisamos do apoio das companhias aéreas. Sob pena de seguirmos alimentando um círculo vicioso fatal para o nosso turismo e, por consequência, para a nossa (já combalida) economia: não temos turistas porque a passagem é cara e a passagem é cara porque não temos turistas! Por mim, Eduardo Sanovicz e a Abear estão convocadíssimos para sentar à mesa conosco e encontrarmos, juntos, o caminho para sair desta armadilha. Juntos.
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