O país está paralisado, e isto nos custa (muito) caro!
Por Marcelo Queiroz
Presidente do Sistema Fecomércio RN
Os recentes acontecimentos, mais uma vez, dividiram o país. Um país que já saiu dividido das eleições presidenciais de 2014 e que, desde então, tem enfrentado um turbilhão de más notícias. Nossa economia está mergulhada em um poço profundo. Taxas de juros estratosféricas, que desestimulam o investimento na atividade produtiva, crédito escasso e caro, desemprego (que já registra taxas acima dos 10%, com um exercito de mais de 10 milhões de desempregados no país), inflação crescente e níveis recordes de endividamento e inadimplência criaram um cenário devastador e jogaram por terra quaisquer possibilidades de crescimento econômico.
Não bastasse tudo isso, vimos uma sucessão de fatos políticos travarem o nosso país. Nada acontece. Temos uma presidenta que hoje só se preocupa em se defender. Um Congresso que tem nas mãos um complexo e denso processo de impedimento que canaliza para si todas as atenções e esforços. Enfim, um país em compasso de espera.
Nós, da classe produtora, além de nos vermos obrigados a redobrar nossos esforços para manter abertas nossas empresas e continuar gerando emprego e renda, estamos assistindo a uma verdadeira dilapidação da nossa economia e de recursos públicos a cada dia.
Vamos aos números. No início desta semana (mais precisamente no dia 25 de abril), a dívida pública da União, Estados e Municípios já passava dos R$ 4 trilhões e continuava crescendo ao assustador ritmo de R$ 2 bilhões por dia. Para se ter uma ideia do que isso representa, desde segunda até hoje, quando você está lendo este artigo, a dívida pública brasileira cresceu o equivalente a quase três vezes o valor arrecadado em todo um ano pelo Rio Grande do Norte com ICMS!
Tem mais. Se mantiver o ritmo, a dívida, que terminou 2015 correspondendo a incríveis 66,5% do nosso PIB, chegará em dezembro deste ano atingindo a inimaginável marca de 74,4% do PIB. Este quadro impacta de forma direta e cruel na vida de todos nós de várias maneiras. A mais forte e palpável é que este nível de endividamento faz com que o mercado – para onde o governo precisa recorrer para pagar os juros desta dívida – cobre do governo taxas de juros cada vez mais altas, criando um efeito bola de neve perigosíssimo. O mercado pode chegar até, em uma situação limite, a suspender o crédito ao país. Seria a bancarrota!
Tem mais. Hoje, o governo já não consegue fazer nenhuma economia para amortecer esta dívida. Basta dizer que, para 2016, em números arredondados, as despesas correntes do governo federal (aí incluídos pessoal, custeio administrativo e programas sociais) devem somar uma nota de R$ 1,2 trilhão, contra uma receita estimada em R$ 1,1 trilhão, ou seja, o governo irá gastar R$ 100 bilhões a mais do que irá arrecadar.
E isso acontece porque, paralisado, o governo não tem conseguido cortar despesas, se reestruturar.
Mas, infelizmente, tem mais. Um dos itens mais visíveis deste cenário de paralisia política que o país vive é o adiamento sine die das desejadas e (cada vez mais) necessárias reformas estruturantes. Se encaixam aí as reformas da Previdência, Tributária, Política e Fiscal, por exemplo. Há quem diga que algumas delas (ou todas) são verdadeiras utopias. Mas, como sempre fui um otimista e crente ferrenho no futuro do Brasil, eu continuo acreditando que elas podem, sim, efetivamente sair do papel. Mas, claro, precisamos, antes, sair da atua paralisia política.
Vamos, de qualquer forma, nos ater a uma das reformas: a da Previdência. O jornal Valor Econômico, em sua edição da segunda-feira passada, 25 de abril, trouxe detalhes de um estudo que traduz em números quanto custa estarmos adiando esta reforma. Vamos a eles.
No ano passado, o déficit da Previdência (considerando apenas o Regime Geral, que engloba os trabalhadores do setor privado e beneficiou, em 2015, pouco mais de 32 milhões de pessoas) foi de 1,5% do PIB, o que representou nada menos que R$ 85,5 bilhões. Segundo o estudo publicado pelo jornal (e que é assinado pelo consultor David Beker, da conceituada Merrill Lynch), caso nada seja feito, em 2020 (daqui a quatro anos, portanto) este déficit já atingirá 1,89% do PIB ou quase R$ 108 bilhões. Em 2060, o déficit do Regime Geral atingiria a insustentável proporção de 13,4% do PIB, acumulando, ao longo dos anos, um rombo equivalente a 23% de tudo o que país produz, comprometendo a aposentadoria de todas as gerações futuras.
São números complexos, eu sei. Talvez alguns deles, sozinhos, merecessem um artigo único para serem abordados com maior profundidade. Mas o fato é que o custo da estagnação política e, consequentemente, econômica que vivemos, é excessivamente alto. Um custo que o Brasil, os brasileiros, não apenas não merecem como simplesmente não podem pagar. Por isso, o nosso clamor é um só: o Brasil precisa voltar a andar. O rumo, os brasileiros decidirão, como deve ser em toda democracia.
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