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28 de junho de 2018

Guerra comercial pode atingir Brasil

Importância do comércio exterior na pauta dos presidenciáveis foi um dos temas debatidos em evento da AEB

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) promoveram no dia 26 de junho, no Rio de Janeiro, o evento Comércio Exterior na Agenda Presidencial, para debater propostas a serem repassadas aos candidatos à Presidência da República.

O objetivo da iniciativa, realizada na Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), foi estimular uma participação maior do comércio exterior na economia, dada sua importância estratégica, política, comercial e social.

“Devemos discutir a participação do comércio exterior na agenda comercial do País. Apesar de os candidatos não estarem sensibilizados para o tema, devemos insistir”, disse Rubens Barbosa, diplomata e presidente do Irice. Segundo ele, a política industrial e a de comércio exterior devem ser prioritárias para qualquer candidato, sobretudo ante a possibilidade de guerra comercial internacional, devido às medidas protecionistas adotadas pelos Estados Unidos contra outras potências mundiais, como a China – em 14 de junho, o presidente Donald Trump aprovou a imposição de tarifas na ordem de US$ 50 bilhões às importações chinesas.

“Estamos perdendo lugar para a China, e, quando falam em Custo Brasil, deveriam falar em Estado Custo Brasil. Se não fizermos pressão para sensibilizar os candidatos sobre a importância da redução de gastos do Estado, teremos sérios problemas”, pontuou o presidente do Irice.

José Augusto de Castro: postura de Trump deve ser levada a sério

“Temos que levar a sério a postura do governo Trump. Se ele seguir com a chamada guerra comercial, seremos todos afetados”, concordou José Augusto de Castro, presidente da AEB. “Vamos ter que arregaçar mangas e fazer com que os candidatos falem de comércio exterior. Temos que fazer a nossa parte e não podemos usar as exportações como válvula de escape para o mercado interno”, disse José Augusto, ao se referir a dados da balança comercial brasileira.

Na quarta semana de junho de 2018, a balança comercial brasileira teve superávit de US$ 2,058 bilhões, resultado de exportações de US$ 5,289 bilhões e importações de US$ 3,231 bilhões. A média das exportações da quarta semana (US$ 1,057 bilhão) ficou 12,2% acima da média registrada até a terceira semana de junho (US$ 943,1 milhões), de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), divulgados em 25 de junho.

Já em relação a maio e de acordo com o Banco Central, o saldo da balança comercial de US$ 5,558 bilhões foi o pior resultado para o mês em três anos: houve uma queda de US$ 2,852 bilhões em relação aos US$ 7,410 bilhões de maio de 2017 e ainda uma baixa de US$ 879 milhões em relação a 2016. “Nos anos 1980, o Brasil era maior que a China e o dobro do México. Em 20 anos nada aconteceu, paramos no tempo, achando que as commodities são a saída para tudo”, afirmou o presidente da AEB.

Efeito em cadeia

Para Ronnie Sá Pimentel, analista de comércio exterior da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o custo do Estado brasileiro impacta o comércio exterior, gerando burocracia e um emaranhado de custos e atrasos, sem definição clara de quanto isso pesa para a competitividade do País.

Ronnie citou documento da Confederação com propostas aos candidatos à Presidência do Brasil e, entre elas, constam ações prioritárias para facilitar e desburocratizar o comércio exterior e modernizar a política comercial do País. Para a indústria, é preciso implementar medidas de facilitação e desburocratização, como o Portal Único de Comércio Exterior, e aperfeiçoar outros, como o programa brasileiro de Operador Econômico Autorizado.

O representante da CNI abordou outros pontos a serem melhorados e que fazem parte do documento com propostas, como a melhoria do sistema de taxas e encargos. “Muitas vezes, o encargo é pago, mas a mercadoria fica parada até que o órgão fiscalizador reconheça esse pagamento. Ainda não há um pagamento centralizado”, disse Ronnie. Outros pontos citados por ele como alvos de melhorias são o regime de licenciamento e a tarifa de escaneamento de contêineres.

Abertura internacional necessária

Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), falou durante o evento da AEB sobre política comercial, reforma tarifária e negociações internacionais. Para ele, a abertura internacional para o comércio brasileiro é necessária e desejável. “Mas como abrir de maneira organizada? A sociedade civil e as entidades de representação terão que colocar isso na agenda”, disse. “Qual é o business plan (plano de negócios, em inglês) do Brasil? Isso não está claro em nenhuma das propostas”, apontou, ao citar números que mostram a posição pouco vantajosa do Brasil em rankings nacionais de competitividade. “Irregularidades na política externa não geram competitividade ao País, e a estrutura de taxação brasileira é contra a agregação de valor”, afirmou.

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