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1 de fevereiro de 2018

Brasil deve criar até 1 milhão de vagas formais em 2018, mas desemprego deve se manter em 12%, estimam economistas

Apesar dos números não tão animadores do emprego em 2017, há sinais de melhora e as previsões dos economistas são de recuperação de postos de trabalho neste ano em meio a uma expectativa de maior crescimento da economia. No entanto, eles estimam que a criação de vagas sem carteira assinada ou “por conta própria” ainda vai superar o emprego formal em 2018.

Economistas ouvidos pelo G1 projetam a criação entre 700 mil e 1 milhão de empregos com carteira assinada em 2018, após o país ter encerrado o ano passado com a perda de 20,8 mil postos formais, no 3º ano consecutivo com as demissões superando as contratações. Entre 2015 e 2017, o país fechou um total de 2,88 milhões de postos. Veja mais abaixo as projeções de 5 consultorias

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (31) mostram que pela primeira vez o número de pessoas que trabalham por conta própria ou em vagas sem carteira assinada superou o daqueles que têm um emprego formal. O país encerrou o 4º trimestre de 2017 com 34,31 milhões de pessoas trabalhando por conta própria ou sem carteira, contra 33,32 milhões de ocupados em vagas formais.

O chamado “por conta própria” é uma categoria que inclui profissionais autônomos, como advogados e dentistas, mas também trabalhadores informais, como vendedores ambulantes ou o chamado “bico”.

Para o economista Thiago Xavier, da Tendências Consultoria, o resultado de 2017, ainda que negativo, já representou um alívio por apontar para uma estabilização após 2 anos de destruição de empregos.

Bruno Ottoni, pesquisador do FGV/IBRE, destaca como principal sinal de melhora a estabilidade no número de trabalhadores com carteira nos últimos meses e continuidade da sequência de queda na taxa de desemprego. “Antes de gerar postos formais, tem que parar de destruir, e cruzamos essa fronteira”, resume.

As projeções dos economistas para 2018 são baseadas principalmente na expectativa de um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto (PIB) entre 2,5% e 3% neste ano. “Será um ritmo gradual que vai ganhando corpo ao longo do ano. A incerteza política decorrente das eleições é o maior entrave”, afirma Luiz Fernando Castelli, da GO Associados.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, avalia que a recuperação da economia segue lenta e que a criação de empregos formais tende a continuar em 2019 abaixo do patamar pré-crise, quando o país abria entre 1 milhão e 2 milhões de vagas com carteira por ano.

“O país só vai conseguir crescer 2,5% a 3% porque o nível do PIB está muito baixo e caiu muito. O emprego só irá aumentar mesmo quando voltarem os investimentos para aumentar a produção corrente”, afirma o analista, citando a ociosidade ainda alta da indústria.

Entre os setores, a avaliação é que as atividades ligadas ao consumo, que tem puxado a recuperação da economia, tendem a liderar a geração de vagas. “A expectativa para a indústria e o varejo são boas. Construção, por outro lado, deve parar de reduzir seu número de funcionários, e talvez mostrar uma alta modesta”, pondera Castelli.

Taxa de desemprego ainda alta

Segundo o IBGE, em 2017, a taxa média de desocupação foi de 12,7%, a maior da série histórica do IBGE, que começou em 2012. Nesse período, o desemprego alcançou, em média, 13,23 milhões de pessoas – o número mais elevado dos últimos 5 anos.

Apesar da perspectiva de maior geração de vagas, economistas projetam uma taxa média de desemprego ainda no patamar de 12% em 2018.

Entre os fatores que devem impedir uma queda mais acentuada na taxa de desemprego está a entrada de novos jovens na disputa por uma vaga de trabalho e o número elevado dos chamados desalentados – aquelas pessoas que não têm emprego e desistiram de procurar, mas que podem a qualquer momento se sentirem estimuladas a voltar a a disputar uma vaga.

“Vamos ter geração de emprego no ano, mas a taxa de desemprego não vai cair tão fortemente porque também teremos entrada de pessoas na força de trabalho. O Brasil ainda está passando por bônus demográfico”, explica Ottoni, destacando que o número de trabalhadores que entram no mercado de trabalho segue superando o daqueles que saem.

Ironicamente, a melhora do mercado de trabalho também acaba pressionando a taxa de desemprego. “Um dos efeitos da crise é que muita gente acabou desistindo de procurar um emprego, saindo da força de trabalho. E já vemos gente que estava inativa voltando para a população economicamente ativa”, acrescenta Thiago Xavier.

Os economistas explicam que a taxa de desemprego é mais difícil de ser projetada porque depende não só do número de vagas criadas, mas também do universo de trabalhadores à procura de uma ocupação.

“Se houver de fato uma maior geração de postos formais, isso pode melhorar a situação do chefe de família e fazer com que os demais membros saiam do mercado de trabalho ou deixem de procurar emprego, deixando de pressionar a taxa de desemprego”, destaca Ottoni.

Informalidade x emprego com carteira

O trabalho informal, entretanto, tende a continuar sendo o motor da recuperação do emprego em 2018. “A qualidade [dos novos empregos] ainda será ruim, isso não há dúvida. O emprego por conta própria nada mais é do que o bico e isso vai continuar crescendo”, afirma Gonçalves.

Pelas estimativas do Ibre/FGV, serão criados no ano cerca de 1,8 milhão de postos de trabalho e desse total, apenas 700 mil serão com carteira assinada. “A maioria ainda vai ser informal, mas obviamente com uma composição muito melhor, pois vai ter muito mais postos formais”, ressalva Ottoni.

Como sinal positivo ele cita a taxa de desemprego no último trimestre do ano que fechou a 11,8% e, pela primeira vez em 12 meses abaixo da registrada no mesmo período do ano anterior (no último trimestre de 2016, a taxa foi de 12%). “A tendência é que daqui para frente se comece a observar uma distância maior”, avalia.

Xavier, da Tendências, projeta uma desaceleração gradual da informalidade.

Para o economista, a nova lei trabalhista tende a contribuir também para uma maior formalização. “A regulamentação do trabalho intermitente e parcial cria um incentivo para que as empresas passem a contratar em modalidades temporárias e formais, ainda que em jornadas reduzidas e com impactos nos salários”, afirma.

Já Gonçalves avalia que o impacto da reforma trabalhista ainda não está claro. “Vai ter um efeito mais visível de aumento de PJ [pessoa jurídica], que é outra forma de contratar, e do temporário, mas só nos próximos 6 meses dará para ter uma clareza do que irá acontecer”, diz.

Na ponta mais otimista das projeções está o economista Sérgio Vale, que estima que a taxa de desemprego poderá encerrar o ano ao redor de 10%. “O mercado de trabalho está bastante positivo e em forte recuperação e se beneficiará ainda mais do crescimento da economia este ano. A massa real de renda deve crescer 4,8%, ajudando a puxar o consumo”, avalia.

Fonte: G1 Economia

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