Notícias

11 de agosto de 2017

Inovações tecnológicas precisam somar e não causar desequilíbrio de mercado

CNC debate os impactos da economia colaborativa e das plataformas tecnológicas em seminário realizado com a presença de empresários, pesquisadores e representantes da cadeia produtiva do turismo, no dia 7 de agosto, no Rio de Janeiro

A revolução tecnológica e as transformações sociais trazidas com ela são fenômenos irreversíveis para qualquer setor econômico. Para que as empresas do segmento de turismo, como as de transporte, alimentação e agências de viagem, consigam acompanhá-la de maneira sustentável, é preciso que se garanta espaço para a inovação, mas também se promova um ambiente regulatório equilibrado. As conclusões são do seminário Impactos da Economia Colaborativa, realizado pelo Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), no dia 7 de agosto, no Rio de Janeiro.

Em palestra de abertura do evento, a professora especializada em Redes Digitais pela USP Dora Kaufman foi taxativa no sentido de afirmar que aplicativos já têm mudado as configurações do setor hoteleiro até em grandes capitais. “O impacto é grande para os hotéis, já que plataformas como Airbnb não pagam impostos, e também para as cidades que sofrem gentrificação e passam a ter em sua configuração áreas residenciais destinadas ao turismo”, afirmou. Ao falar que, atualmente, cerca de 70% do faturamento do Airbnb é proveniente de imóveis vazios administrados por corretores, a professora defendeu que a plataforma de hospedagem não deve ser considerada como “economia compartilhada”. “Tanto o Airbnb quanto o Uber já são modelos de negócio, mas qual é a relação deles com a economia colaborativa? Eles contam com avaliações que constroem ou destroem a reputação do produto que vendem”, afirmou Dora.

Com a deixa, o presidente do Cetur/CNC, Alexandre Sampaio, reforçou a necessidade de regulamentação dessas plataformas. “Volto a repetir que a isonomia de condições entre todos do setor de hospedagem é o que garante uma concorrência equilibrada. Para isso, a regulamentação dessas plataformas mencionadas é necessária”, afirmou.

Tecnologia modifica setor de alimentação

Representantes do setor de alimentação afirmam que, nos restaurantes, a frequência diminuiu e o giro das mesas ficou mais longo, o que desafia o segmento a pensar em alternativas criativas para atrair consumidores. “Temos que parar para pensar que a tecnologia também pode agregar. Em um momento em que as pessoas saem menos de casa por conta crise econômica, aplicativos como o iFood conseguem alavancar em 40% a renda de um restaurante, sem aumentar a mão de obra”, afirmou Pedro De Lamare, presidente do SindiRio e sócio da Rede Gula Gula. Além do bom uso da tecnologia, as recentes normas aprovadas para o trabalho intermitente e a Lei da Gorjeta são de grande valia para o setor, já que geram emprego para aqueles que têm sido prejudicados pela crise. O presidente da  Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-RJ) e sócio-diretor do grupo PAX, Roberto Maciel, também defende a redução do aluguel dos imóveis de rua para estímulo ao setor.

Transporte e agências devem oferecer experiência cada vez melhor às novas gerações

Apesar de grandes empresas e plataformas na área de transportes já dominarem o cenário brasileiro, o presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA), Jorge Pontual, acredita que a tecnologia é uma aliada ao desenvolvimento do setor. Para ele, o aluguel de automóveis é uma oportunidade única de exploração da cidade. Uma fonte de receita em um momento que todos buscam alternativas menos custosas. “Buscamos agora é entender a melhor customização para os nossos clientes. Temos que utilizar a tecnologia para conversar com essa nova geração e oferecer a ela a melhor experiência na hora de alugar um automóvel”, afirma. Apesar de muitos palestrantes terem citado o carro autônomo como um grande vilão para a redução dos aluguéis de automóveis e até de estadias em hotel, o presidente da Abla não o vê como uma realidade brasileira, já que apenas 12,5% da malha viária nacional é calçada.

Para o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Edmar Bull, não existe mais viagem sem passar pelo digital e é preciso um profissional cada vez mais capacitado para lidar com os desafios da inovação. Segundo ele, as agências estão se adaptando ao novo consumidor, unindo informação e conhecimento para oferecer uma consultoria eficiente e produtos segmentados. “A agência tem que unir tecnologia à capacitação e integração de todos os sistemas. Principalmente marketing e mídias sociais, que são investimentos para o cliente final”, defendeu Bull.

O gerente da Amadeus, Paulo Rezende, acredita que as empresas precisam acompanhar de perto os caminhos abertos pelas tecnologias. A Amadeus, por exemplo, tem uma unidade de novos negócios para fomentar novas tecnologias e startups. “A gente entende que essa onda de inovação, de tecnologias fazendo disrupção dos negócios, vai continuar acontecendo e a gente tem que se preparar para quando ela acontecer dentro do nosso quintal”, disse Rezende.

Possíveis soluções

Para a empreendedora social da OuiShare, Manuela Yamada, é preciso unir a economia colaborativa e a inovação social como uma forma de combater a crise econômica e promover a inclusão. Manuela esclareceu que a Economia do Compartilhamento pressupõe um sistema econômico baseado no compartilhamento de bens ou serviços subutilizados que é feito entre indivíduos. “Plataformas como o Uber e o Airbnb foram pensadas para serem de consumo colaborativo, mas elas acabaram tomando outro caminho, entrando no mercado capital como qualquer outro negócio”, analisou a especialista. Yamada destacou que as inovações têm que somar e não causar desequilíbrio de mercado. “A tecnologia está aumentando a desigualdade social, no Brasil e no mundo”, disse Manuela. “É preciso que as empresas entendam o lucro não só como financeiro, mas também como lucro social”, concluiu.

Os efeitos da tecnologia no mercado de trabalho foram abordados pelo jornalista e colunista de tecnologia Pedro Doria, que defendeu a diminuição da carga horária como solução para a redução de vagas de emprego que tecnologias como a inteligência artificial vão gerar. “A gente passará por uma fase de transição, vai ter muita gente de 50 anos que nos próximos dez anos vai ver sua profissão se extinguir e não vai ter tempo de se recolocar no mercado”, disse. “Acredito que a redução da carga de trabalho e a implementação de um sistema de renda mínima podem ajudar no combate às questões sociais geradas pela tecnologia”, complementou o colunista.

O deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ) garantiu que o debate é frequente na Câmara dos Deputados e que está pessoalmente engajado. “A vida coletiva sempre requereu que se estabelecessem regras. Temos que estabelecer esses procedimentos”, defendeu. Para Leite, é preciso que a lei seja de vanguarda, desburocratize os negócios, promova o investimento em inovação, como as chamadas startups, e garanta uma concorrência equilibrada.

O seminário Impactos da Economia Colaborativa – Alimentação, Transporte e Agências de Viagem é o terceiro de uma série de cinco eventos, denominada Turismo: Cenários em Debate, que o Cetur da CNC vai realizar em 2017, com o objetivo de elaborar um documento final com as conclusões e sugestões de políticas públicas.

 

*Fonte: CNC


Outras notícias

Pular para o conteúdo