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7 de julho de 2023

Com cautela externa e reforma tributária, Bolsa cai 1,78%, maior perda desde maio

O Ibovespa registrou nesta quinta-feira (6), sua maior perda diária desde a queda de 2,40% em 2 de maio, refletindo o aumento da aversão a risco no exterior ante a possibilidade de o Federal Reserve voltar a elevar juros no fim deste mês, após ter feito pausa na reunião anterior. A tramitação da reforma tributária no Congresso também esteve no radar dos investidores.

O Ibovespa fechou o dia em baixa de 1,78%, aos 117.425,70 pontos, entre mínima de 117.095,88 (-2,05%), do começo da tarde, e máxima de 119.548,02 pontos, da abertura. Fraco, o giro financeiro desta quinta-feira ficou em R$ 21,63 bilhões. Na semana e no mês, o índice da B3 cede 0,56% e, no ano, avança 7,01%.

Na agenda interna, em derrota para as ambições do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, as votações do arcabouço fiscal e do projeto de lei que retoma o chamado voto de qualidade do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) devem ser pautadas apenas em agosto, após o recesso parlamentar. Essa foi a tendência relatada ao Estadão por lideranças no Congresso.

Pelo lado positivo, a PEC da reforma tributária foi aprovada nesta quinta-feira em primeiro turno, na Câmara dos Deputados. Apesar de ser aguardada como um desdobramento positivo da pauta econômica no Congresso, há alguma cautela dos investidores quanto ao formato final da proposta. “O Congresso impôs diversas derrotas ao governo como forma de demonstrar poder, mas desta vez houve liberação de emendas, o que reforça o apoio, o consenso entre deputados e senadores, inclusive da oposição, para que a matéria passe, seja aprovada”, diz Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos.

No cenário externo, uma nova fornada de dados econômicos americanos, especialmente a forte geração de vagas de trabalho no setor privado em junho (ADP), resultou em elevação do índice VIX, métrica de volatilidade em Nova York, onde as três principais referências para ações caíram entre 0,79% (S&P 500) e 1,07% (Dow Jones) na sessão. Embora não muito correlacionados, os dados da ADP sobre empregos são vistos como uma espécie de tira-gosto para o relatório oficial sobre o mercado de trabalho americano – cuja leitura de junho será conhecida nesta sexta-feira (7).

Assim, combinando risco externo e cautela doméstica, as perdas se disseminaram na carteira do Ibovespa, em dia de forte pressão sobre o câmbio – com o dólar de volta à casa de R$ 4,95 na máxima desta quinta-feira após ter fechado o dia interior a R$ 4,85 – e também sobre os DIs futuros, em particular os longos. Na B3, apenas cinco das 86 ações do Ibovespa conseguiram encerrar a sessão em terreno positivo, com IRB (+5,02%) e Eztec (+2,00%) à frente. No lado oposto, Gol (-9,78%), Magazine Luiza (-7,62%), Via (-6,76%) e Azul (-6,50%).

Entre as empresas de maior capitalização de mercado, as perdas do dia chegaram a superar 2% para os grandes bancos, com destaque para Santander (Unit -2,11%, mínima do dia no fechamento) e Bradesco (ON -2,31%, PN -2,41%). No setor de commodities, Petrobras ON e PN cederam hoje 1,27% e 1,53%, e Vale ON, 0,72%.

“O mercado teve um dia de busca por liquidez, com dados importantes de emprego e o PMI de serviços nos Estados Unidos (da ISM), em leituras fortes que assustaram os investidores. A resiliência do mercado de trabalho americano, em especial, coloca em 88% no meio da tarde hoje a chance, pela ferramenta da CME, de retomada da alta de juros no Fed, em julho, o que se refletiu também no dólar, com busca por segurança e liquidez na moeda americana”, diz Dennis Esteves, sócio e especialista da Blue3 Investimentos.

“O dia foi dos ‘ursos'”, acrescenta o analista, referindo-se a investidores posicionados para queda de preços dos ativos em Bolsa.

“A ata do Fed, da tarde de ontem, já sugeria cautela quanto aos juros americanos, o que ganhou força hoje com os resultados do índice de atividade do setor de serviços e, principalmente, a geração de vagas de trabalho no levantamento mensal da ADP, bem acima do consenso.

 Mercado de trabalho americano ainda mostra resiliência, o que mantém a chance de aumento de juros pelo Federal Reserve”, diz Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos.

Graficamente, se tivesse rompido os 120 mil pontos – marca tocada nesta quinta no intradia e que foi alcançada em fechamento no último dia 21, aos 120,4 mil -, a tendência seria o Ibovespa buscar os 124 mil, diz Harada. Em sentido inverso, abaixo dos 118 mil pontos, o suporte seguinte estaria na região dos 116 mil que, uma vez rompido, poderia levar o índice aos 114 mil pontos, acrescenta.

“Além dos juros americanos e dos índices de atividade – que têm se enfraquecido na China, grande consumidora de commodities a que nossa Bolsa é muito exposta -, há outras questões em aberto, como o que sairá da reforma tributária em sua forma final. O momento sugere posição defensiva, ainda se terá volatilidade pela frente”, observa Harada.

Dólar fecha no maior nível em 1 mês

O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira (6), em alta de 1,64%, cotado a R$ 4,9299 – maior valor de fechamento desde 5 de junho. O dia foi marcado por uma rodada de fortalecimento da moeda americana em relação a divisas emergentes e avanço dos retornos dos Treasuries. Dados fortes da economia americana, em especial do mercado de trabalho, reforçaram as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) promoverá novas altas da taxa de juros neste ano. 

Por aqui, houve desconforto com a especulação em torno de suposto adiamento para agosto da votação final do novo arcabouço fiscal e do projeto de lei do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf). O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), deu prioridade à reforma tributária.

“Houve um exagero na queda do dólar em junho. Não se sabe o que vai sair dessa reforma tributária. Tem risco de a votação do arcabouço e do Carf ficar para depois do recesso parlamentar A verdade é que o governo pode ter dificuldade em cumprir a meta fiscal logo no primeiro ano”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, que não acredita em taxa de câmbio abaixo de R$ 4,80. “Hoje, tivemos impacto externo, com aposta em aumento de juros pelo Fed e queda das commodities. Mas o cenário local é preocupante e também contribuiu para a alta do dólar”.

Principal referência do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para agosto teve volume expressivo, acima de US$ 18 bilhões, o que sugere mudanças relevantes nas posições dos agentes. Investidores estrangeiros, que passaram junho “vendidos” em dólar futuro, viraram a mão neste início de mês e estão agora estão levemente “comprados”.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, vê peso maior do ambiente externo no movimento de depreciação do real nesta quinta-feira. Apesar do estresse nos últimos dias, ele acredita que o dólar pode voltar a operar abaixo de R$ 4,80 e renovar mínima do ano no fechamento ao longo do segundo semestre.

Segundo Weigt, quando houver mais segurança sobre qual será a taxa terminal de juros nos EUA, os retornos dos Treasuries podem recuar, abrindo espaço para nova rodada de valorização das divisas emergentes. A onda de fortalecimento do dólar frente a moedas emergentes e de países exportadores de commodities abalou mais as divisas latino-americanas. As maiores perdas, na casa de 2%, foram do peso colombiano, que ainda acumula, contudo, alta de cerca de 12% no ano. Em seguida, aparecem o real e o peso mexicano. 

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