Empresários de nove capitais foram ouvidos sobre quais práticas já são adotadas e os principais entraves para avançar no tema
A primeira pesquisa com tomadores de decisão do setor terciário sobre o que as empresas praticam em termos de sustentabilidade e se possuem conhecimento sobre o que é ESG (Environmental, Social and Governance) e economia circular, realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontou que o setor de turismo é o que mais conhece esses conceitos (50,7%), seguido pelo comércio, com 47,5%, e pelos serviços, com 43,2%. As grandes empresas tendem a ter mais conhecimento do que as de pequeno porte, representando 58,3% e 35,5%, respectivamente. Entre as que aplicam a economia circular, 65,4% praticam a gestão de resíduos; e 37,6%, a logística reversa; e apenas 26,4% aplicam o ecodesign. No reconhecimento de oportunidades de ganhos com a agenda da sustentabilidade, os três setores têm praticamente o mesmo percentual: 48,6% dos empresários de serviços acreditam que adotar as práticas da sustentabilidade é positivo para os negócios, 48,2% dos empreendedores do turismo e 46,8% dos varejistas.
Foram ouvidos 840 empresários do setor terciário para entender quais são as práticas adotadas pelas empresas em termos de sustentabilidade e economia circular e o seu conhecimento sobre o significado de ESG. O estudo consultou empresas situadas em nove capitais do País e foi efetuado no último trimestre de 2022. “Cada vez mais consumidores estão dispostos a realizar compras conscientes e estão mais preocupados com a origem dos materiais, por exemplo. Após a pandemia, o consumidor está mais reflexivo e seu comportamento em relação ao consumo e ao coletivo vem mudando”, afirma o presidente da CNC, José Roberto Tadros. Segundo ele, a adoção do ESG pelas empresas do setor terciário, além de demonstrar responsabilidade ambiental e social, agrega valor às marcas e é, atualmente, um dos fatores levados em conta pelos investidores. “ESG é, hoje, um indicativo de solidez, custos mais baixos no longo prazo, melhor índice de reputação e maior resiliência em meio às incertezas e vulnerabilidades. Isso mostra a importância dos critérios ESG para as empresas e como eles podem afetar positivamente a sociedade”, avalia Tadros.
Para os próximos 10 anos, os riscos globais mais relevantes estão relacionados com mudança climática e desastres naturais, segundo levantamento do Fórum Econômico Mundial (FMI). “As questões que envolvem o meio ambiente e o clima tendem a ser temas cada vez mais debatidos e fontes de preocupação em nível mundial”, indica a responsável técnica pelo programa de sustentabilidade da CNC, Fernanda Ramos. Ela alerta que, como evidencia a sigla, é preciso as empresas estarem atentas ao atendimento de critérios ESG, principalmente em relação à gestão de riscos climáticos e de direitos humanos. Além de atenção às diretrizes globais para acesso a novos mercados e um investidor mais preocupado com a gestão desses riscos.
Blockchain é uma aliada para rastreamento da cadeia de fornecedores
Na esfera social, as iniciativas mais praticadas pelo setor terciário são incentivos aos empregados para a realização de cursos de qualificação e estágios. Nesse sentido, a pesquisa mostra que cerca de 63% das empresas se preocupam em oferecer um ambiente de trabalho agradável e seguro para os colaboradores. Outro dado importante que o estudo apresenta é que 80% das empresas de serviços e turismo, tanto pequenas quanto grandes, preocupam-se com boas práticas sociais e ambientais na contratação de fornecedores. “Nesse ponto, a tecnologia blockchain (base de dados que guarda registros de transações de forma permanente e inviolável) tem sido uma importante aliada para solucionar a rastreabilidade de toda a cadeia do processo produtivo e trazer garantia para as empresas contratantes”, explica Fernanda Ramos.
No aspecto ambiental, a pesquisa evidencia que as empresas praticam mais a destinação adequada de resíduos sólidos, o licenciamento ambiental e o uso de energias renováveis e incentivos para redução da tarifa de energia (tarifas específicas em horários determinados). Apesar de 86,2% dos empresários considerarem a adoção de práticas sustentáveis importante para os negócios, o tema enfrenta desafios, principalmente em relação a custos e despesas.
Especialmente por conta da dificuldade de acessar linhas de crédito para aplicar em sustentabilidade, juros elevados, endividamento e inadimplência das empresas, as ações relacionadas a questões ambientais e sociais acabam sendo mais restritas. Quase 40% das corporações de grande e pequeno porte ainda não consideram a agenda relevante o suficiente para disporem de recursos. “Para a sustentabilidade de fato ganhar representatividade nas ações e planejamento das empresas, os empresários precisam visualizar os impactos em seus resultados”, ressalta a economista da CNC Izis Ferreira. Para isso, aponta ela, é fundamental a aplicação de métricas padronizadas para medir esses impactos em cenários distintos. Mesmo assim, oito em cada dez empresas afirmaram praticar ações de preservação ambiental mesmo que os resultados não sejam mensurados no seu negócio, além de considerarem a avaliação de boas práticas sociais e ambientais na relação com fornecedores.
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