O varejo encerrou o primeiro semestre com perda de fôlego disseminada, em meio a um cenário de inflação pressionada e crédito mais caro no País. O volume vendido recuou 1,4% em junho ante maio, após já ter encolhido 0,4% no mês anterior, de acordo com os dados da Pesquisa Mensal de Comércio, divulgados nesta quarta-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado indica uma tendência negativa para o setor na sequência do ano, avaliou a economista do Itaú Unibanco Natália Cotarelli.
Ainda temos que ver o impacto do aumento dos auxílios para as vendas, principalmente em agosto e setembro, mas mesmo assim é provável que tenhamos varejo negativo no terceiro trimestre”, previu Cotarelli. Segundo Eduardo Vilarim, economista do Banco Original, as vendas de bens de consumos duráveis devem seguir prejudicadas pelos efeitos da alta dos juros, que encarece o crédito. Por outro lado, o pagamento do Auxílio Brasil, as desonerações recentes nos combustíveis e energia elétrica e a melhora no salário de trabalhadores ocupados no mercado de trabalho podem beneficiar as vendas futuras de supermercados, mas também dos segmentos de vestuário e de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui as lojas de departamento.
“Eu vejo o varejo desacelerando como um todo, mas essas atividades podem ter algum respiro com esse auxílio”, contou Vilarim. “De acordo com os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE), mesmo que de maneira mais lenta, você está vendo os salários voltando, tanto o nominal quanto o real. O real (salário real, que desconta a inflação acumulada no período) também avançou, isso foi uma surpresa na última divulgação. Então de repente o auxílio, mais desoneração, mais os salários voltando, mesmo que marginalmente, se desenha uma massa salarial um pouco maior. Isso realmente pode ser um pouco mais positivo para o varejo”, considerou.
Antes das duas últimas quedas nas vendas, o comércio varejista vinham de quatro meses de avanços: janeiro (2,3%), fevereiro (1,3%), março (1,2%) e abril (0,6%). Enquanto o bom desempenho do início do ano era considerado heterogêneo, sustentado por algumas atividades, a queda no volume vendido em junho ante maio foi generalizada, afirmou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE. “A queda (em junho) vem bastante distribuída”, disse Santos.
Volume de vendas
O volume de vendas do varejo chegou a junho em patamar 1,6% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, as vendas operam 3,0% abaixo do pré-pandemia. Os segmentos de artigos farmacêuticos, material de construção e supermercados estão operando acima do patamar pré-crise sanitária.
O segmento de artigos farmacêuticos opera em patamar 24,5% acima do pré-crise sanitária; material de construção, 5,2% acima; e supermercados, 2,3% acima. Os veículos estão 9,5% aquém do nível de fevereiro de 2020; móveis e eletrodomésticos, 14,8% abaixo; vestuário, 9,9% abaixo; equipamentos de informática e comunicação, 11,0% abaixo; outros artigos de uso pessoal e domésticos, 1,3% abaixo; combustíveis, 0,9% abaixo; e livros e papelaria, 36,4% abaixo.
Ainda segundo o IBGE, após um recuo de 1,4% no volume vendido em junho ante maio, o varejo passou a operar 4,6% abaixo do pico alcançado em outubro de 2020, dentro da série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio, iniciada em 2000. Já o varejo ampliado, que caiu 2,3% em junho ante maio, está em nível 8,2% aquém do ápice registrado em agosto de 2012.
Fonte: Daniela Amorim | Agência Estado